14 de junho,
sábado
9h30 às 11h30
14h30 às 16h30
9h30 às 10h30
Onde estamos
agora?
O exame das coordenadas.
"Em um universo
infinito, não existe um centro – qualquer ponto é tão central quanto
qualquer outro – e não há, assim, nenhuma posição natural na qual as
pedras e outros corpos pesados concretizam sua qualidade natural.
Ou, para formular esse ponto de outra maneira – do modo efetivamente
usado por Aristóteles –, em um vazio um corpo não poderia ter
consciência da localização de seu lugar natural. É justamente por
estar em contato com todas as posições no universo, através de uma
cadeia de matéria interveniente, que um corpo é capaz de achar seu
caminho até o lugar onde suas qualidades naturais são plenamente
realizadas. A presença de matéria é o que fornece uma estrutura ao
espaço. Assim, tanto a teoria de Aristóteles do movimento local
natural quanto a antiga astronomia geocêntrica são ameaçadas por um
ataque à doutrina aristotélica do vazio. Não há nenhuma maneira de
“corrigir” as concepções de Aristóteles sobre o vazio sem
reconstruir muito do restante de sua física."
O caminho desde a estrutura, livro de Thomas Kuhn

10h30 às 11h30
Quem somos?
"A existência social só
é possível através da capacidade que o indivíduo tem de endossar uma
sucessão de papéis diferentes segundo os públicos e os movimentos,
mas sempre preservando uma unidade (LE BRETON, 2003). “Entretanto,
mesmo do ponto de vista das coisas mais insignificantes, nós não
somos uma totalidade materialmente constituída, idêntica para todos
e cujo conhecimento obtemos através de exercícios; nossa
personalidade social é uma criação do pensamento dos outros”
(PROUST, 1988: 24). Uma ação corresponde a apenas uma parte daquilo
que o indivíduo poderia investir. Quando ele encarna um de seus
personagens no cenário social, os outros são colocados entre
parênteses. Alguns de seus públicos habituais ficariam
desconcertados se o encontrassem alhures, em outro contexto, fora do
papel que são acostumados a vê-lo exercer."
Desaparecer de si, livro de David Le Breton

14h30 às 15h30
A Navegação da
Travessia - parte 1
"Os antigos artesãos
gregos sabiam coisas que outros cidadãos não sabiam – por exemplo,
como construir casas, fazer joias, curar. Especialistas desse tipo
são encontrados em todas as culturas de todas as épocas. Existiam no
antigo Egito, na Babilônia, na China. A questão é: qual era a
posição social desses grupos? Na Grécia, muitos artesãos eram
escravos. Nem todos se importavam em ser escravos. Ao contrário dos
homens livres, eles não tinham de ir para a guerra. Aristófanes fala
de guerreiros cansados que voltam da guerra e encontram escravos
ricos e felizes, exibindo suas riquezas em público. Ésquilo e
Aristófanes não eram escravos; no entanto, eram diferentes dos
cidadãos comuns por causa do seu talento especial para escrever
peças de teatro: nesse aspecto, estavam separados das outras
pessoas. Para Platão, contudo, eles não eram apenas inúteis, eram
também perigosos – ele queria expulsá-los de sua sociedade perfeita.
O problema é: qual a melhor maneira de integrar pessoas especiais,
como artesãos ou dramaturgos, na sociedade?"
Ciência, um Monstro, livro de Paul Feyerabend,

15h30 às 16h30
A Navegação da
Travessia - parte 2
"Intimamente feliz com
a liberdade conquistada, Francisco percorria os vales e as verdes
colinas de sua terra, abençoado e bem-aventurado. A beleza desta
Terra revelou-se ao seu amor pueril e afetuoso como um mundo
renascido e transfigurado: as árvores em flor, a relva macia, as
águas correntes e cintilantes, as nuvens que passavam pelo
azul-celeste e o canto de alegria dos pássaros tornaram-se seus
amigos fraternos. Pois de seus olhos e de seus ouvidos caíra um véu,
e ele enxergava o mundo purificado e sagrado, transfigurado como nos
primeiros dias do esplendor do Paraíso. E não foi alucinação,
embriaguez nem ilusão fugaz, pois, a partir daquele dia, mesmo em
tempos amargos, difíceis e muito dolorosos, Francisco continuou
sendo até o fim um bem-aventurado e eleito, que ouvia a voz de Deus
em cada caule, em cada riacho, e sobre ele a dor e o pecado não
tinham poder nenhum."
Francisco de Assis, livro de Hermann Hesse

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