Esther
desejava o caminho dos anjos, em sua saudade de querubins e
arcanjos. Entendia as distâncias e os percursos, as limitações e as
dificuldades da trajetória; sabia ainda de suas inspirações, de suas
buscas, e assim se colocou em sua jornada.
Ela se
deslocava por similitudes...! Ou seja, o que é semelhante nas rotas,
o que aponta as diferenças nas continuidades. O que traz parecença,
similaridade com sua jornada existencial rumo ao que lhe é mais
íntimo e profundo.
Tradução em Esther: borboletas, flores, beija-flores, libélulas,
joaninhas...
Mas o que
fazer com seres que, para Esther, significavam o risco das
ambigüidades? Morcegos voam como voam as borboletas, mas habitam
cavernas e a escuridão. E as corujas? Simbolizam a sabedoria, porém
podem estar ligadas a presságios sombrios.
Ambiguidades funcionam como similitudes para muitos; não funcionam
para Esther.
Há muitos modos de desenvolvimento, sendo as similitudes um desses
modos.
Em sua
experiência, Esther se envolveu em uma série de aventuras, algumas
belas. Houve dias nos quais refletiu sobre paradoxos aparentes.
Exemplo: a flor de lótus nasce no lodo, mas é símbolo de pureza e
iluminação. Lodo e beleza não pareciam amigos amistosos entre si, e
ainda (em suas diferenças) menos amigos da flor de lótus.
Algumas
vezes, Esther considerou desistir. E então, numa ocasião, ao
praticamente decidir que desistiria, que ficaria pelo caminho, uma
delicada joaninha veio e pousou suavemente em seu ombro. Ela lembrou
de Jesus, que "precisou" passar por Samaria, embora pudesse evitar
essa rota. E chega ao poço exatamente quando uma mulher vem tirar
água (o que geralmente ocorreria em outros horários). É para aquela
mulher samaritana que ele revela, pela primeira vez explicitamente,
que era o Messias. Em um único gesto ele ultrapassa impedimentos de
gênero, de etnia (havia hostilidades entre judeus e samaritanos) e
da religião.
Esther
chora. Acha difícil entender os sinais de similitudes. A água que a
mulher samaritana deu a ele retorna com uma promessa: a de não
existir mais sede para quem bebesse da fé.
A história
de Esther não se conclui. Um dia, ela morre, aos 85 anos. E, naquele
dia, havia borboletas e beija-flores, além de muitas flores e
jardins. Mas houve quem dissesse ter percebido arcanjos e horizontes
maiores nas janelas que se abriam.
Com
prudência, cuidados filosóficos, ética, discernimento, trataremos
deste tema no dia 30 de agosto, em nosso estudo sobre Similitudes.
Um abraço,
Lúcio Packter
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