Bons Fluídos

       março de 2006


 

Terapia rima com filosofia

 

 

CONSULTA DE FILÓSOFO

 

Filósofos-terapeutas revivem o costume dos pensadores da antiga Grécia. Eles passeiam por parques, praias e praças ao lado de quem, por alguma razão, está sofrendo. Conversam, citam diferentes modos de enxergar uma questão, ampliam os horizontes. Para isso, fazem uma formação de dois anos, além dos quatro anos da faculdade de filosofia.


Na América do Norte, quem comanda essa onda é o professor canadense Lou Marinoff, que escreveu Mais Platão, Menos Prozac e Pergunte a Platão (ed. Record), um fenômeno editorial no mundo e que no Brasil ganhou um prólogo de Paulo Coelho, seu fã. No livro, Marinoff garante que o olhar da filosofia é suficiente para compreender a maioria de nossos problemas e que só os casos patológicos precisam ir para a análise.
 

O gaúcho Lúcio Packter criou a Filosofia Clínica em fins dos anos 80. Seu instituto forma filósofos clínicos e amplia o mercado de trabalho desse tipo de profissional. Criticado por órgãos de classe que representam psicólogos e psicanalistas, e até mesmo por alguns filósofos, Lúcio Packter não se exalta. "Muitos deles vêm fazer meu curso", diz.

 

BONS FLUIDOS - Como atua um filósofo clínico?

 

LÚCIO PACKTER - Ele procura entender a história de vida de cada pessoa. Pesquisa contextos, situações, dificuldades que colocaram a pessoa diante de momentos difíceis e buscará com ela procedimentos para contornar essas situações. A filosofia clínica é diferente da psicologia e da psicanálise. Por exemplo, pode-se dispensar o set terapêutico e atender o cliente num parque.

                                                                             

BONS FLUIDOS- Como alguém que enfrenta uma depressão causada por um problema emocional pode se curar por meio da reflexão?

 

LÚCIO PACKTER - A depressão pode ser debelada por um processo reflexivo quando esse for o caminho mais adequado, quando pela reflexão a pessoa souber o que causa sua depressão e o que fazer a respeito disso. Mas nem sempre é assim. Muitas vezes a reflexão somente atrapalha e agrava o problema. Muitas vezes é pela intuição, pela oração, pela emoção ou até mesmo por alguma atividade física que uma pessoa trabalha e afasta o quadro de depressão. Por isso, o filósofo clínico deve estudar com cuidado a história da pessoa para saber se será de um modo ou outro.

 

BONS FLUIDOS- Quando a filosofia clínica é contra-indicada?

 

LÚCIO PACKTER- Ela é uma atividade que exige ética, conhecimentos específicos, aptidão, disponibilidade. Como qualquer atividade que tem como pressuposto a atenção ao ser humano, a filosofia clínica requer a busca por parte da pessoa, requer o tempo e as condições necessários. Quando não existir essa busca interna, provavelmente teremos problemas.