CRUZEIRO DO SUL

                        Sorocaba, 15 de abril de 2001.

 Filosofia Clínica deseja curar doenças tratando do existencial

Por José Antonio Rosa

Sorocaba deve passar  a fazer parte das cidades paulistas que disporão, em um futuro próximo, de consultórios de Filosofia Clínica. Dentro de aproximadamente dois anos, os 21 primeiros profissionais habilitados no curso ministrado na cidade por Lúcio Packter, o mentor dessa modalidade científica, começaram a trabalhar.

Mas, afinal, o que vem a ser a Filosofia Clínica? Quais suas aplicações?

Como o próprio nome sugere, Filosofia Clínica é a forma de acompanhamento indicada a portadores de males psicossomáticos, ou seja, decorrentes de males emocionais.

A identidade com os fundamentos da psicologia, da psicoterapia e da psiquiatria existe, mas os filósofos Eduardo de Oliveira, Francisco de Assis e Telma Eunice Bordieri explicam que os campos de atuação se distinguem.

A diferença consiste, dizem eles, no fato de que enquanto a psicologia trabalha com o emocional, a Filosofia Clínica centra o foco no existencial dos indivíduos que dela se socorrem.

A fixação desses e outros conceitos ainda está envolvida em muita controvérsia. Definida como uma criação “genuinamente brasileira”, a Filosofia Clínica, admite o professor Lúcio Packter, encontra certa resistência e é, no mais das vezes, pouco compreendida.

Os filósofos clínicos não podem, por exemplo, fazer diagnósticos ou prescrever medicamentos. Conversam, por outro lado, com os “partilhantes” (termo que serve para designar seus pacientes), aos quais prestam orientação.

O procedimento adotado pelos profissionais obedece praticamente aos padrões estabelecidos pela psicologia, psiquiatria e psicanálise. Uma vez estabelecido o contato, parte-se da historicidade do partilhante a fim de que ele próprio encontre a solução para o seu problema.

“Nós não aconselhamos, apenas indagamos pelo caminho a seguir. Cabe, portanto, ao partilhante escolher”, afirma Francisco de Assis, um dos filósofos clínicos de Sorocaba.

O surgimento da Filosofia Clínica fez com que a ciência adquirisse um novo status, afirmam Eduardo, Francisco e Telma. Até pouco tempo, os cursos de Filosofia estavam entre os que apresentavam menor demanda de candidatos ao vestibular.

Em Sorocaba, por exemplo, a Universidade chegou a cogitar a desativação de sua faculdade, mas reviu a decisão.

A partir da abertura do mercado de trabalho que a Filosofia Clínica proporcionou, o grau de interesse aumentou consideravelmente.

Até mesmo um Instituto foi criado no município. A entidade, conforme Eduardo Oliveira, congrega bacharéis graduados no curso e deve impulsionar a Filosofia Clínica em um nível local.