A GAZETA – 24 de junho de 2001, Cuiabá

Por Kelly Figueiras

 

O conceito é bastante novo, mas já vem arrebatando adeptos em todo o Brasil. A conhecida Filosofia Clínica surgiu há sete anos em Porto Alegre e objetiva usar a filosofia para tratamento de depressão, ansiedades e outros problemas emocionais que tradicionalmente pertencem ao campo da psicanálise e psiquiatria.

O fundador desse conceito é o filósofo gaúcho Lúcio Packter, que esteve em Cuiabá para ministrar workshop gratuito sobre a Filosofia Clínica. Existem 13 estados brasileiros com mais de mil praticantes da Filosofia Clínica, sendo 150 deles habilitados para atender a pacientes.

"Existem várias universidades que começam a ministrar o curso", comenta Lúcio Packter.

Ele teve conhecimento do uso da filosofia no tratamento de pessoas na cidade de Roterdã, Holanda. Em 1980, ele morava no continente europeu. Depois disso, ainda teve contatos com a área, como uso da filosofia de "aconselhamento", praticada nos Estados Unidos.

"Mas parecia que dar conselho era muito pouco", comenta o filósofo. Foi a partir de então que ele começou uma série de estudos sobre como utilizar a filosofia para tratamentos, culminando por fundar, em 1994, o Instituto Packter de Filosofia Clínica, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul.

"Ela não se confunde com a psiquiatria, porque está baseada em Filosofia", explica o residente Cassiano Veronesi, primeiro mato-grossense a fazer o curso de Filosofia Clínica por uma universidade de Goiânia.

A Filosofia Clínica não parece muito diferente de outros tratamentos holísticos, como a homeopatia. Consiste, segundo explica Cassiano Veronesi, em buscar ferramentas na história de cada pessoa para resolver conflitos internos. "O filósofo vai mapear a pessoa, levando em consideração como ela vê o mundo e como enxerga a si mesma", comentou.

A partir desse mapeamento (que não pretende ser taxativo, como frisa Veronesi) a Filosofia Clínica busca partir para o plano de ação. "O filósofo é um amigo do paciente, ele não vai tentar aplicar nele a teoria, mas compreender a pessoa, procurar enxergar os conflitos internos que, por algum motivo, não estão claros", disse Veronesi.

"Não adianta tratar de uma dor de cabeça se a causa dela está relacionada a outros problemas. Uma pessoa pode desenvolver uma dor de cabeça só por pensar que o fim de ano está próximo e que ela vai ter que se encontrar com a família, o que para ela parece ser algo ruim", acrescenta Packter.

A filosofia está presente nos princípios destes tratamentos, que usam a lógica aristotélica, analítica da linguagem, epistemologia, historicidade, fenomenologia, estruturalismo e existencialismo, conceitos trazidos da academia filosófica. Os filósofos que serviram de inspiração são vários, passando de Chomsky, Kant, Sartre a Heidegger. "Não é propriamente a busca pela cura, porque o tratamento não supõe que a pessoa esteja doente, mas é busca do equilíbrio e da reorganização da pessoa", conclui Veronesi.

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