LAVRAS NEWS

Entrevista com o Filósofo Clínico Hélio Strassburger

                                          

                                                          março de 2005

 

Esta semana o LavrasNews traz uma entrevista com o professor de Filosofia Clínica Hélio Strassburger. Disciplina nova no universo do conhecimento, a Filosofia Clínica vem ganhando diversos adeptos no País. Saindo dos consultórios, das salas de aula e dos laboratórios de pesquisa, ela agora propõe outros espaços de atuação dentro da sociedade. No centro de tudo: o Homem e suas angústias, alegrias e desejos. Na tarde ensolarada da última terça-feira, dia 15, a reportagem conversou com o filósofo gaúcho no amplo e confortável hall do Hotel Vitória no centro de Lavras. Sorridente e atencioso, o educador falou sobre diversos assuntos que você lê abaixo na íntegra.


Fale-nos um pouco sobre a sua formação como professor e clínico

Eu sou formado em Filosofia pela Universidade de Santa Maria no Rio Grande do Sul, tenho curso de pós-graduação em Ciências Sociais e Antropologia, e em Filosofia Clinica; fiz a minha formação no Instituto Packter (primeira universidade da Filosofia Clínica no país). Atuei depois em consultórios e hospitais da região sul do país. Em seguida, fui chamado para dar aulas de filosofia clínica em Divinópolis, Belo Horizonte e Santa Catarina. Atuo durante a semana em meu consultório em Porto Alegre e nos fins de semana viajo e trabalho na formação de filósofos clínicos no Brasil.

O que é a Filosofia Clínica?

Ela é uma especialização da Filosofia Acadêmica onde os profissionais somente podem dar aulas e fazer pesquisas. Com a Filosofia Clínica, se abre uma possibilidade grande desses profissionais abrirem seus consultórios, trabalharem com assessoria empresarial, manicômios e hospitais. Ela vai completar em maio deste ano 10 anos de vida. Hoje existem mais de 4 mil filósofos clínicos no Brasil. Foi sem sombra de dúvida uma grande explosão da Filosofia Clínica no país.

Qual a sua análise da Reforma Universitária proposta pelo governo?

O ministro da Educação do governo Lula, Tarso Genro, é um profissional competente e talentoso. Contudo, a universidade brasileira, tanto pública como privada, tem problemas. Sou professor há mais de 20 anos e vejo com preocupação aquilo que muitos intitulam por aí como a “indústria do saber”. Houve na verdade uma massificação da Educação no país. Basta pegar os cursos de Medicina, Psicologia, Direito, entre outros, onde se tem a idéia de que com um curso superior em mãos todas as portas serão abertas. E a verdade não é esta. O profissional se forma e acaba tendo problemas sérios até com uma certa desilusão pelo investimento que ele fez durante a sua graduação.
O mercado de trabalho é restrito e envolve outras coisas que a universidade não ensina, como por exemplo talento, dedicação exclusiva, capacidade de adaptação, entre outros, que a própria universidade não trata na formação dos alunos.
Acredito que a Reforma Universitária está mexendo num território minado, que é educação privada no país, que justamente surgiu por uma lacuna nas universidades públicas (má remuneração dos professores, pouco incentivo à pesquisa, falta de equipamentos). O que a iniciativa privada fez foi arregimentar campus, classificar profissionais e eles começaram a ter retorno com a Educação. Acredito que vai ser uma queda de braço muito forte e a Reforma vai ter muita dificuldade para ser colocada em prática.

Como o senhor analisa a explosão do mercado de livros de auto-ajuda no Brasil?

Acho preocupante as pessoas generalizarem dizendo que os livros de auto-ajuda não prestam. Eles estão sendo apressados ao dizerem isso. Assim como temos destes livros com problemas, fracos e sem conteúdo, inclusive vendendo uma idéia aos leitores de que eles podem fazer “tudo”, por outro lado existem outros títulos que são importantes. É importante destacar que nós vivemos numa época de transição, de novos paradigmas e modelos.
Podemos fazer inclusive um paralelo com a Filosofia Clínica, pois ela é também um novo paradigma, assim como a psicologia freudiana (Sigmund Freud) e a jungiana ( Carl Jung). Ela é mais uma possibilidade hoje. A Filosofia Clínica não realiza internações, não medica, não trabalha com tipologias, conceitos como normal e patológico, cura e loucura são conceitos políticos para nós. Ela não é terapia alternativa, ela é feita por um profissional talentoso como o medico e filósofo Lucio Packter (criador da Filosofia Clínica). Para ele a filosofia tinha mais respostas que a medicina vinha dando até então.

Há hoje uma individualidade (singularidade) e um individualismo (egoísmo) na sociedade de consumo em que vivemos. Como separar e entender esta questão tão pertinente?

Quando dizemos que todos os homens são violentos, podemos estar cometendo uma injustiça, pois nem todos são violentos ou injustos.
Na Filosofia Clínica nós procuramos desvendar o sujeito. E a partir desta singularidade de cada um é que nós vamos ter acesso à Cultura e ao meio em que a mesma vive. Não podemos esquecer que de uma forma ou de outra somos frutos de uma sociedade que nos impacta, que nos causa anseios e alegrias. Agora, uma cultura do individual está muito voltada para o consumismo. Vemos muito isso nas grandes cidades do país. As pessoas têm uma depressão e vão ao shopping comprar; e as coisas melhoram.
Na verdade eles estão jogando seus problemas para baixo do tapete. Na verdade essas pessoas deveriam encarar de frente seus monstrinhos. O mundo é uma construção subjetiva da nossa subjetividade, que reunidas numa sociedade formam o todo: o social, o cultural, o político, entre outros.

O filósofo francês Michel Foucalt afirmava que as ciências humanas flutuavam nos espaços do conhecimento, enquanto as ciências exatas se prendiam a certos pontos seguros. Como o senhor vê a situação das ciências humanas nas universidades brasileiras?


O Michel Foucalt é um filósofo fantástico, que criou conceitos importantes e obras fundamentais para a Filosofia. Ele via realmente isso: a descaracterização do humano em face do objeto. Isto fecha ideologicamente com o que vemos no elogio ao consumismo, a tecnologia que, se por um lado traz benefícios, por outro traz a descaracterização do ser humano. Se pensarmos quantos caixas de banco tínhamos há 20 anos atrás e quantos temos hoje, veremos isso. Hoje tudo é mais confortável, mas do ponto visto humano, muitas pessoas perderam seus empregos, seus objetivos, sua motivação e muito mais. Isto é de certa forma uma antecipação de uma catástrofe, com uma certa desumanização das pessoas.

Qual o futuro da Filosofia Clínica no Brasil?

A Filosofia Clínica é uma produção brasileira. O fundador (Lucio Packter) dela poderia muito bem tê-la realizado na Europa, mas ele optou pelo Brasil, mais precisamente pela cidade Porto Alegre. É importante salientar que o Brasil agora não está só exportando bons pilotos de Fórmula 1, mulheres bonitas, carnaval e futebol, mas também a Filosofia Clínica. Há vários profissionais nossos atuando em diversos países do mundo. Algo que é uma realidade hoje. Para os interessados, nós temos um site na Internet: www.filosofiaclinica.com.br, e o telefone 0XX51 33306634. Nós temos uma assessoria lá para atender as pessoas. Aqui em Lavras nós estamos realizando um curso de pós-graduação em Filosofia Clínica, que tem duração de 2 anos. As inscrições ainda podem ser feitas no colégio Nossa Senhora de Lourdes, local onde acontecem as aulas. Estamos no 2º módulo e até o 3º as pessoas ainda podem estar se inscrevendo para participar.